Como as sensações olfatórias podem contribuir para o tratamento da Epilepsia.
O envolvimento de estruturas olfatórias com a ELT, não é recente, data de mais de 100 anos, quando Jackson e colaboradores (apud Löscher; Ebert, 1996) descreveram o córtex piriforme – considerado o córtex olfatório primário – como um dos principais focos primários para crise epiléptica. Mais tarde (1985) o grupo de Karen Gale (Piredda, Lim, & Gale, 1985), descobriu que a região anterior designada como área tempestas desempenha uma importante função no desenvolvimento de crise, dada a alta sensibilidade e responsividade a estímulos, em especial elétricos (Ulrich Ebert & Löscher, 2000; Löscher & Ebert, 1996; Piredda et al., 1985).
Contrapondo, Ebert & Löscher (2000) descreveram o bloqueio de crises, detectadas por redução da atividade epileptiforme no córtex piriforme com o consequente aumento do limiar convulsivo, em animais submetidos ao estimulo olfatório com tolueno no modelo abrasamento elétrico da amígdala. Segundo os autores, o córtex piriforme estaria “ocupado” processando o estímulo olfatório, limitando assim a propagação da atividade epileptiforme.
Além deste estudo, outros indicam que a estimulação sensorial periférica, como com estímulo olfatório, por exemplo, é capaz de suprimir ou inibir a ocorrência de uma crise, como descrito por Gowers (1881, apud Löscher; Ebert, 1996), que utilizou a amônia e nitrito de amila, no controle de crises, em especial aquelas precedidas por auras (sinais premonitórios que indicam o início da crise). Em 1956, Efron descreveu o relato de uma paciente que apresentava crises precedidadas de auras olfatórias, e que exposição ao odor semelhante ao descrito pela paciente, aplicado durante a presença da aura, era capaz de inibir a expressão de tais crises. Mais tarde esta mesma paciente interessantemente criou um condicionamento, utilizando inicialmente um acéssório, e posteriormente, somente com a evocação da memória olfatória era por si capaz de impedir tais crises (Efron, 1957).
Ademais, na Índia é descrito desde tempos remotos o exótico controle das crises utilizando o “shoe-smell”, ou seja, chulé de sapato. A manutenção desta prática em geral utilizada no interior do país instigou a pesquisa científica afim de, entender os mecanismos que justificassem a permanência desta terapêutica (Jaseja, 2008). E finalmente, a terapia com odores, intitulada de aromoterapia, mostrou-se como uma alternativa eficaz no controle de crises (Betts, 2003).
Assim, evidências clínicas e experimentais fornecem um escopo científico, demonstrando que a estimulação olfatória pode influenciar no processo de crise, interferindo na resposta molecular, comportamental e eletroencefalográfica (EEGráfica). Entretanto, pouco se sabe ainda sobre tais mecanismos, logo, entender tais paradigmas, e possivelmente no futuro poder fornecer uma outra opção de tratamento além das opções atualmente disponíveis, representa um importante desafio no estudo da Epilepsia.