Você conhece seus limites? O que define o que cada um de nós pode ou não fazer na vida?
Todos enfrentamos, em momentos diferentes da vida, situações em que nos vemos diante de tomadas de decisões complicadas. A escolha da carreira, o que fazer frente a um relacionamento que não vai bem, sair ou não da casa dos pais, empreender em um negócio próprio, constituir família, ter ou não filhos, enfim, a força motriz da vida depende da aceitação de desafios e a disposição para transformação.
Usualmente não são decisões simples de serem tomadas, uma vez que dependem de mudanças de paradigmas que vêm acompanhadas da necessidade de um investimento razoável de energia. Mas, assim como na primeira lei de Newton, que define que um corpo em repouso tem a tendência natural de permanecer em repouso, um corpo em movimento tem a tendência natural de permanecer em movimento e as mudanças de estado em nossas vidas demandam um investimento inicial de esforço e energia que se compensa a partir do momento em que a transformação se inicia, demandando cada vez menos com o passar o tempo.
No mundo da neurociência essas mudanças de estado não dependem de forças mecânicas, mas sim de algo que chamamos plasticidade e requer o investimento de energia, emoção e tempo.
A plasticidade cerebral é definida como a característica que nos permite sejamos em 2016 a versão revista e ampliada do que fomos em 2015. A maioria das transformações pelas quais passamos, mal são notadas porque acontecem de forma lenta e gradual, mas nos momentos de tomadas de decisões como a da escolha da profissão o quadro muda e aí sentimos a dificuldade.
Mas o que significa algo ser “difícil” para alguém? Normalmente consideramos difícil aquilo que não temos a habilidade de executar, seja um cálculo matemático que não conseguimos fazer mentalmente, seja dirigir ou praticar algum esporte, mas sabemos que o treino e a repetição levam ao desenvolvimento de qualquer habilidade, assim, o que é difícil, com o tempo se torna fácil. E o que acontece em nossos cérebros durante esse processo? Bem, a resposta é, de novo, plasticidade!
Quando tentamos executar uma ação pela primeira vez, nossos cérebros imaginam uma programação que supostamente deva ser suficiente para a execução bem sucedida da ação que pretendemos, no entanto, raras são as vezes em que conseguimos atingir o sucesso na primeira tentativa. Esse conjunto, planejamento-ação-checagem-ajustes é o ciclo básico de aperfeiçoamento de um ato motor e envolve várias etapas de processamento cerebral.
Imagine a situação de alguém lançando uma bola de basquete ao cesto pela primeira vez. Inicialmente quem está aprendendo, normalmente observa quem já sabe fazer e isso ativa neurônios especiais, chamados neurônios em espelho, que reagem no observador de forma razoavelmente semelhante ao que acontece em quem executa de fato a ação. Este é o primeiro passo para iniciarmos o programa motor que irá executar a ação.
Na sequência, o novato pega a bola, sente seu peso, seu tamanho e textura; observa a cesta a calcula a distância e a trajetória que a bola deve, hipoteticamente, percorrer para acertar o alvo. Neste etapa há a integração dos sinais sensoriais vindos das mãos, braços e ombros (no que diz respeito à sua posição no espaço com o resultado esperado) e é calculada (inconscientemente) o número de células musculares que devem ser contraídas para fornecer à bola a energia necessária para alcançar o cesto. Uma vez que a pessoa “decide” qual movimento deve ser executado, as áreas motoras do córtex cerebral, baseado no que “dizem” as áreas sensoriais e no resultado esperado, mandam a ordem para as contrações musculares que julga apropriadas.
Essas ordens do cérebro são passadas adiante por meio de um tipo de comunicação entre os neurônios chamado sinapses, estruturas dinâmicas que se formam e desaparecem de acordo com a necessidade.
Em nosso caso hipotético, vamos considerar que o iniciante erra a jogada. No momento em que observa o resultado, imediatamente ele julga onde foi que errou, se lançou a bola com muita ou pouca força, se a direção e a angulação do lançamento foram adequados ao objetivo e, numa segunda tentativa, faz as correções que considera necessárias.
A repetição de uma ação uma centena de vezes, transforma a rede de neurônios envolvidos no ciclo planejamento-ação-checagem-ajustes de maneira a fortalecer a comunicação entre aqueles neurônios ativados quando a checagem da execução aponta para o sucesso e enfraquece a comunicação entre aqueles ativados nas falhas.
Isso significa que para aprendermos algo novo, independentemente de que seja lançar uma bola ou pintar com a boca, os erros são tão ou mais importantes que os acertos, pois eles auxiliam na construção de uma rede neuronal forte e eficiente para a realização do ato.
Moral da história: não desista!