Laboratório de Neurofisiologia e Neuroetologia Experimental (LNNE)

Fundado em 1987 pelo Prof. Norberto Garcia-Cairasco, tendo como influências científica mais marcante os Professores Miguel Rolando Covian, um dos fundadores do Depto de Fisiologia da FMRP-USP, e Renato Sabbatini, orientador de Pós-Graduação do Prof. Norberto. Originalmente, o LNNE desenvolve os primeiros trabalhos de pesquisa a partir de dois projetos iniciados na Universidade Industrial de Santander, na Colômbia, que tratavam de “Lesões químicas e eletrolíticas na substantia nigra e sensibilidade à epilepsia audiogênica” e “Avaliação comportamental e motora de lesões do núcleo caudado em ratos albinos”.

Com este background, ainda em 1987, iniciam-se os primeiros experimentos com um modelo de epilepsia audiogência induzida por lesões eletrolíticas da substância negra reticulada, como projeto de Doutorado de Carolina Doretto, que foram determinantes para o início da seleção de animais endogenamente susceptíveis à crises audiogênicas a partir dos animais provenientes do Biotério Central da FMRP-USP. Apesar do início dos trabalhos em 87, somente em 2003, após vinte gerações de cruzamentos endogâmicos para seleção de animais sensíveis a estímulos acústicos, a cepa Wistar Audiogenic Rats (WAR) é apresentada à comunidade científica.

Outro momento marcante das pesquisas realizadas no Laboratório foi o isolamento e a síntese de um composto neurotóxico encontrado na carambola, a caramboxina, e que é extremamente perigoso para pessoas com insuficiência renal, sendo que em alguns casos graves pode levar o paciente renal à morte. Este foi um dos mais longos projetos do laboratório, multidisciplinar e interinstitucional, que teve sua coroação com a publicação de um trabalho em uma das mais importantes revistas de química do mundo.

Apesar deste início com crises audiogênicas, inúmeros projetos foram desenvolvidos ao longo da história do LNNE envolvendo variados modelos animais para o estudo das Epilepsias, como a indução de Status Epilepticus (SE) por injeção de ácido caínico, pilocarpina (intraperitoneal e intrahipocampal), pentilenotetrazol, caramboxina e estimulação elétrica do complexo amigdalóide. Outros modelos lançaram mão de técnicas menos “intensas”, quando comparadas ao SE, para o estudo dos mecanismos plásticos envolvidos na epileptogênese, como o abrasamento elétrico da amígdala (associado ou não ao abrasamento audiogênico em animais da Cepa WAR), abrasamento elétrico rápido da amígdala e, mais recentemente, um modelo de indução de displasia cortical por criolesão cortical perinatal.

Além dos estudos envolvendo as epilepsias, outros trabalhos avaliaram características comportamentais, anatômicas e neuroquímicas do transtorno obsessivo compulsivo e, atualmente, a associação entre epilepsias e uma de suas principais comorbidades, a depressão induzida por estresse.

Tal variedade de projetos demanda uma grande gama de métodos de análise para a compreensão dos fenômenos neurobiológicos. A Neuroetologia é uma das técnicas mais amplamente utilizadas no Laboratório, tanto em modelos animais, quanto no estudo de pacientes. Em colaboração com o centro de cirurgia em epilepsia do HC-FMRP, foram avaliados parâmetros comportamentais das epilepsias humanas, usando como método principal a análise neuroetológica, que consiste no registro comportamental detalhado das crises, o estabelecimento de relações comportamentais ao longo da evolução do quadro convulsivo e a provável ativação cerebral envolvida na geração dos comportamentos observados.

Este método, amplamente utilizado no LNNE desde seus primórdios, tem evoluído ao longo dos anos, tanto para trabalhos básicos quanto clínicos e hoje iniciamos a era das análises não lineares de correlação, como o uso de teoria de grafos. Mas, apesar do reconhecimento da importância primordial da expressão comportamental, estudos mais detalhados das circuitarias cerebrais envolvidas nos modelos utilizados são cruciais para o melhor entendimento do quadro estudado. Por isso o LNNE se utiliza de análises anatômicas e funcionais em diversos níveis, a partir do uso de técnicas como imuno-histoquímicas, estereologia, reconstrução neuronal tridimensional, eletrofisiologia in vivo e in vitro, manipulações farmacológicas e simulações computacionais de redes neuronais.

Sem nenhum prejuízo para a formação científica e acadêmica dos alunos do LNNE, o Prof. Norberto sempre foi um grande incentivador de projetos de extensão à comunidade para disseminação do conhecimento gerado na universidade. Exemplos disso estão disponíveis neste site na seção de Eventos. Atualmente, a Semana Nacional do Cérebro é a atividade de maior importância para divulgação das neurociências no país e o Laboratório teve e tem um papel de destaque na realização da Semana.

Assim, o Laboratório de Neurofisiologia e Neuroetologia Experimental têm se construído ao longo dos anos, valorizando as diferenças individuais de forma a construir uma história muito rica e contribuindo para a formação de professores e neurocientistas no sentido mais amplo da palavra, sempre priorizando as características que nos tornam, antes de cientistas, seres humanos.